quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Notíसिअस डा Fotografia

Galeria São Paulo

Mais modesta que nos anos anteriores e viabilizada por parcerias com vários espaços de exposições da cidade, a programação de 2005 traz 29 exposições, além de mais de 20 atividades como cursos, oficinas, workshops, palestras e leituras de portfolio, a maioria delas gratuita








A sétima edição do evento – que começou dia 15 de abril e se encerra no dia 15 de junho - abraçou a programação de vários espaços tradicionais de exposições da cidade de São Paulo para em dois meses celebrar o universo da fotografia com profissionais brasileiros e internacionais. Sob coordenação do Nafoto (Núcleo dos Amigos da Fotografia), o mês marca também a inauguração, dia 10 de maio, da Leica Gallery no Brasil, a sétima galeria da marca alemã no mundo, com a exposição Magic Hands, de Elliott Erwitt, fotógrafo francês naturalizado norte-americano, um dos nomes mais importantes da Agência Magnum.



Outros destaques são a primeira mostra individual de Silvio Pinhatti, que traz uma série de retratos do bailarino e coreógrafo japonês Kazuo Ohno, com ampliações processadas em cibachrome pelo próprio fotógrafo; Ocian, ensaio inusitado de Hilton Ribeiro, com imagens feitas na praia do litoral sul de São Paulo, sempre em dias nublados, que leva o nome da mostra; e a mostra Voyage D’Hiver en Pologne, de Bernard Plossu, um dos últimos fotógrafos andarilhos da contemporaneidade. As radicais transformações da China e da Rússia estão em Os Gigantes Vermelhos, de Renata Del Soldato e Pedro Hiller.



Rubens Fernandes Junior, um dos idealizadores e coordenadores do mês, conta que o evento está mais modesto no número de exposições, pois no ano passado o núcleo tentou colocá-lo em circulação com patrocinadores e não houve uma resposta positiva. Assim, a sétima edição do Mês está sendo viabilizada pelas parcerias do Nafoto com os vários espaços culturais de São Paulo. "Estávamos bastante desanimados porque até janeiro deste ano não tínhamos como fazer o Mês. Mas o que nos estimulou foi que nossos parceiros, entre eles a FNAC, que produziu o catálogo com o guia das exposições, disseram: São Paulo não pode ficar sem o Mês, porque sediou o primeiro evento e tem sua importância. Afinal, são quase 15 anos de história", conta.



Para Fernandes Junior, esta cumplicidade conquistada e mantida com vários espaços culturais da cidade foi o motivo que moveu o Nafoto a organizar o Mês em torno de vários eventos de fotografia que acontecem até o dia 15 de junho. "Até hoje não houve um gap, um branco. Mesmo modesto, o Mês vai acontecer com várias exposições, atividades e cursos com antigos parceiros como o Paulo Feijó e o Antônio Leite. Isso mostra que trabalhamos sempre na direção da educação e da democratização da informação. Nossas exposições nunca tiveram exclusividade. Sempre que pudemos repassá-las para Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Porto Alegre (RS), fizemos isso", destaca.



O Mês conseguiu reunir vários pesquisadores e interlocutores para palestras na Pinacoteca do Estado. Também estão programadas discussões no Conjunto Cultural da Caixa, leituras de portfolio na FNAC e no SENAC, além de mesas-redondas no MIS (Museu da Imagem e do Som). "Percebemos que se tivéssemos aberto ainda mais nossa guarda, teríamos muito mais gente querendo falar sobre fotografia. Todos os espaços querem trazer as discussões para dentro deles, pois hoje há carência de uma boa informação e de discussão também. E nós pensamos no Mês com essa função: atender as pessoas que precisam ver, mostrar e falar sobre fotografia", analisa Fernandes Junior.



E a pretensão do Nafoto é que o Mês continue firme e forte em 2007. "Vamos pensar grande, pois a chamada que tomamos, no bom sentido, dos nossos parceiros, nos chacoalhou. Sabemos que, em parte, somos responsáveis pela importância que a fotografia adquiriu em São Paulo", diz. Ainda, segundo Fernandes Junior, hoje quase todas as galerias vendem fotografia, que passou a ser uma referência dentro das artes visuais, fato que em 93 não acontecia. Nos quatro primeiros eventos coordenados pelo Nafoto, cerca de 120 mil pessoas circularam pelas exposições. "Na época, soubemos indiretamente que houve um incremento da vendas de filmes e da revelação", lembra. No entanto, nem mesmo esses números puderam sensibilizar eventuais patrocinadores da fotografia. Fernandes Junior explica que hoje existe uma crise generalizada nas artes visuais e no seu suporte, ao mesmo tempo em que muitos artistas estão procurando a fotografia para expressar seu trabalho. E, por outro lado, a migração da fotografia analógica para a imagem digital também afeta as empresas. "Além da crise e da mudança geral que vai acontecer e que coloca as empresas tradicionais de produção de papel e filme numa situação difícil, devemos ter a percepção que é aí que temos que potencializar a circulação de imagens e a fabricação de produtos", pondera.



Hoje, a imagem está sendo produzida em altíssima escala, porém, o que ficará dessas fotos?

Para Fernandes Junior, se a memória visual não for produzida com outras características, acabará perdida na virtualidade. "O que acontece hoje é que se produz muito, mas se olha pouco. Por isso, o Mês entra também com esta função de educar o olhar, pois ainda existe um certo analfabetismo visual. Possuir a ferramenta para produzir uma imagem não significa necessariamente que se tenha o domínio do vocabulário, da gramática. Você só está produzindo imagens. Por isso, nossa pretensão é fazer da fotografia um agente transformador para parte de nossos visitantes", analisa.



Evento é referência para o meio fotográfico




Desde 1991, o Mês Internacional da Fotografia vem sendo preparado e planejado pelo Nafoto. Organizado em anos ímpares, o primeiro deles aconteceu em 93 num momento de crise da fotografia brasileira. "Estávamos no Governo Collor, quando foi extinto o Instituto Nacional da Fotografia, uma conquista dos fotógrafos e que nos anos 80 mapeou e regionalizou toda a produção fotográfica brasileira, através da realização das semanas nacionais de fotografia em várias cidades do Brasil", conta Fernandes Junior.



A fotógrafa Nair Benedicto, que também é uma das fundadoras do Nafoto, ressalta que o núcleo surgiu a partir da necessidade de os fotógrafos saberem o que estava acontecendo com a fotografia brasileira. "Tanto que em 1993, primeiro ano do evento, o Nafoto organizou uma mostra intitulada Panorama da Fotografia Brasileira no século XX justamente para remapear toda a produção. "O SESC Pompéia abrigou uma mostra com cerca de 900 imagens de aproximadamente 150 fotógrafos de todo o Brasil. A maior exposição de fotografia brasileira já realizada no país com todos os estados representados", lembra.



Depois da experiência com o Instituto Nacional da Fotografia, o núcleo resolveu pensar grande para tentar fortalecer a fotografia e democratizar a informação. "A partir das nossas experiências em outros países, pensamos num mês internacional que seria realizado em maio, época do outono, quando temos a luz mais bonita de São Paulo", conta Fernandes Junior.



Após a mostra do SESC Pompéia, o grupo começou a se estruturar e a fotografia brasileira entrou para o cenário internacional e ao mesmo tempo os fotógrafos internacionais passaram a expor também no Brasil.



De acordo com Nair, o Nafoto nunca duvidou da importância e do valor da fotografia brasileira. Só era uma questão de abrir mais espaço, pois ao contrário de hoje, antes a fotografia ficava em segundo plano e não havia uma freqüência de exposições. Fernandes Junior lembra que, desde 93, a Pinacoteca do Estado e a Aliança Francesa sempre se mostraram parceiras de primeira hora. Na época da criação do Nafoto, outro foco das discussões, segundo Nair, era a falta de divulgação da produção fotográfica latino-americana. "O MASP, por exemplo, começou a apresentar exposições a partir do sucesso do primeiro mês internacional, porque fotografia é público", aponta. Assim, as primeiras discussões do grupo se direcionavam para a expansão da fotografia, além dos limites do Brasil e ainda o desafio de torná-la conhecida por aqui. "Num país como o Brasil, constatamos que muita coisa poderia e pode ser feita em termos de fotografia e educação", concluiu a fotógrafa.

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